QUINTANA NA QUINTA
Foi uma montagem em
forma de recital cênico-poético, apresentado durante a Semana de Ciência
e Tecnologia de 2016 do IFMG Campus Ouro Branco e que se constituía em um conjunto
selecionado de poemas do poeta Mário Quintana. Este projeto foi o pioneiro na
ação da companhia, com um cenário decorado de origamis, recortes e barcos
de papel e as personagens representadas pelos integrantes do grupo (os quais proclamavam
as poesias) utilizavam figurinos que caracterizavam a escrita leve e delicada de Quintana.
SABATINA
Em 2016, a Insuportável Cia. de Arte consolidou uma importante parceria
com a Insólita Casa de Artes através de uma oficina-montagem que culminou na apresentação da peça Sabatina, de Ildeu Ferreira,
em dezembro de 2016, contando nas datas de 08 a 11 do referido mês com um público de mais de 200 pessoas da cidade e região. A peça foi
reapresentada em fevereiro de 2017, contando novamente com casa cheia. Sabatina narra a história de Moritz que, desviado do caminho do trabalho para a casa
por um forte nevoeiro, volta a sua antiga escola, ao educandário Santo Hilário. Ali ele reencontra velhos conhecidos: colegas, professores e diretor.
Para seu espanto, todos estão mortos, inclusive ele mesmo. Seria um pesadelo ou devaneio? O ambiente da peça se move num estranho mundo onde o personagem
revive as “torturas” das aulas, do convívio com os colegas e mestres e das sabatinas. A peça é uma adaptação livre a
partir dos textos “A Lição” – de Eugène Ionesco, “Aurora da minha vida” – de Naum Alves de Souza, “O
despertar da primavera” – de Frank Wedekind, “Apareceu a Margarida” – de Roberto Athayde, “Sandman”- de Neil Gaimon e “O
concílio do Amor” – de Óscar Panizza. Sua montagem foi muito importante para todos os professores e estudantes envolvidos, porque foi para todos
nós da Insuportável Cia. de Teatro a entrada no mundo das artes cênicas.
Em 2017, os processos nos levaram a montagens de esquetes teatrais em escolas públicas da cidade
de Ouro Branco nos meses de outubro. Entre as escolas contempladas com as apresentações estão o próprio Instituto Federal de Minas
Gerais / Campus Ouro Branco (pais, alunos e servidores), o Colégio Municipal Pio XII, a Escola Estadual Iracema de Almeida e a Escola Estadual Cônego
Luiz Vieira (estudantes e professores), alcançando cerca de 300 espectadores.
Os dois esquetes teatrais apresentados, de autoria coletiva do grupo, intitulam-se A ceia sã e Casa de papel,
bonecas de pano e abordam temas como sexualidade, abuso de drogas,
violência doméstica, entre outros assuntos presentes na vida de jovens e adolescentes. Através desses textos, a cia. constituiu importante
parceria com o NAEE (Núcleo de Apoio ao Educando e ao Educador) dentro do IFMG (Campus Ouro Branco) e pôde ser acompanhada pela psicóloga
Patrícia Dias e pela enfermeira Thaís Periard que estiveram com o grupo em todas as apresentações, participando ativamente das rodas
de conversas que se seguiam a cada esquete, não apenas respondendo a dúvidas de adolescentes, como também elucidando pontos importantes
abordados pelos textos teatrais.
A CEIA SÃ
O esquete A ceia sã; reproduziu em seu cenário uma mesa de jantar na qual se sentam como personagens
membros de uma família completamente inserida em um caos: o pai alcóolatra, a mãe dependente de medicamentos e tabaco, os filhos perdidos em depressão,
ansiedade, drogas lícitas e ilícitas, e uma criança emocionalmente abandonada. Para piorar o quadro, parentes intriguistas e um casal de visitas bastante
crítico acentuam ainda mais a situação problemática da cena. A mãe, perdida entre as atribulações da casa, tenta desfazer os nós
da existência de todos, entretanto, encontra-se em um caminho sem volta e abre-se ao público para uma última conversa. Engraçado e intenso, o esquete
discutiu a imagem decadente da família tradicional que tenta empurrar para baixo do tapete suas mazelas, fazendo sofrer filhos e pais no processo doloroso do abuso
de drogas e outros vícios
CASA DE PAPEL, BONECAS DE PANO
Casa de papel, bonecas de pano abordou a sexualidade
em diversos ângulos, desde a visão intimista que envolve o diálogo sobre sexo numa relaçã
o entre pais e filhos a problemas de ordem nacional como a agressão contra a mulher e questões urgentes de
saúde pública como a gravidez na adolescência e a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis,
as chamadas DSTs. Nessa cena, também uma família se vê às voltas com um problema que, em princípio,
configura-se como a possibilidade de uma gravidez na adolescência. Em diálogos contundentes, uma adolescente é
assolada pelos problemas advindos do sexo sem proteção, temendo uma gravidez não planejada. Contudo, as suspeitas
da jovem não se confirmam e a cena caminha para um desfecho real e surpreendente.
UNIF 2017
Ainda em 2017, a Insuportável Cia. de Teatro apresenta
cenas num evento de Direitos Humanos do IFMG CAMPUS OURO BRANCO. A apresentação foi assim descrita no periódico
do evento: "Abrangendo os temas da UNIF 2017 e fazendo questionamentos sobre os assuntos abordados de maneira direta e chocante.
Com os temas sobre trabalho infantil na África, os Limites da Engenharia Genética em Seres Humanos e a Mutilação
Genital Feminina, a Insuportável encenou um teatro muito impactante e desconfortável para quem assistia. Utilizando de placas
com questionamentos como “a lei de um país pode frear a ciência?” e “a ciência tem direito de intervir
na lei de civis?”, abordou perguntas essenciais para a discussão sobre os Limites da Engenharia Genética em Humanos.
Outros cartazes trazendo informações sobre a África nos faz questionar o fato de, apesar de ser um país muito
rico em recursos é, ao mesmo tempo, o continente com os piores IDH’s do mundo, cartazes como “África, um continente
de riqueza” mostra essa contradição entre a situação da África e sua disponibilidade de recursos.
Em um certo momento, muito chocante, garotas ensanguentadas aparecem sobre o palco com o intuito de mostrar a violação cometida
às meninas no continente africano, placas que mostram complicações decorrente da mutilação genital feminina
como hemorragias, infertilidade e infecção. Em outro momento, são mostradas pessoas em suas vidas individualistas focados
em redes sociais, porém, em certo momento, um terrorista aparece e em um último grito de “allahu akbar”, explode todos,
e mostra que perante a situações de desigualdade, que são os berços da violência, as pessoas preferem ignorar
a situação dos terceiros."
MONEY
Para o Congresso de Desenvolvimento Regional realizado em IFMG Campus Congonhas/MG, a
Insuportável Cia. de Teatro preparou uma apresentação que trouxe à cena um olhar sobre o trabalho dentro do processo social. Qual seu
real valor para o desenvolvimento regional? Numa perspectiva crítica da relação Trabalho versus Dinheiro, o grupo fez uma ampla leitura das
relações que permeiam a atividade do trabalho nos mais diversos setores. Nesse universo, o grande capitalista, cercado da confortável situação
de que goza, é resguardado pela justiça, vangloriado pela religião e protegido pela força policial. O capital é personificado pelo burguês
que traz acorrentado a si o homem comum, cego pelo futebol, seguindo seu dono por onde quer que ele vá. Numa engrenagem que acorrenta ricos e pobres, oprimidos e opressores,
a exploração arrebenta a alma de uma trabalhadora e a miséria ganha braços e pernas no corpo de um mendigo, por muitos, considerado a escória social.
Nesse comboio de correntes, todos os personagens assumem os papéis uns dos outros e experimentam por segundos as dores e deleites de ser o outro. Ao som de Money de Pink Floyd,
acordes de guitarras ditam o ritmo enlouquecido, de uma sociedade decrépita e movida exclusivamente pelo dinheiro. A partir dos jogos teatrais de Augusto Boal, com esta performance,
a Insuportável vem perguntar a todos aqui presentes: qual é o valor do trabalho? Quanto vale a vida? Vale quanto pesa? Que país é este que deixa metade
de seus trabalhadores com uma renda menor que o salário mínimo? Deixamos a pergunta no ar, a contagem do dinheiro nunca tarda e a engrenagem torna a começar...
SIDERAÇÕES
O recital-poético Siderações, mais uma composição
coletiva da Insuportável Cia. de Teatral, foi uma das montagens mais complexas realizadas pelo grupo. Não apenas pelo teor da matéria-prima
que a compõe: a inspiração nos corpos desenhados pela dançarina Pina Bausch, na composição telúrica dos haikais
compostos pelos próprios alunos em um lirismo suave e tocante, o figurino em tons fosforescentes que, sob a luz negra, iluminam corpos celestes no movimento
contínuo do espaço sideral. Nesse universo, luas, sóis, asteroides, planetas e estrelas das mais diversas naturezas foram transformados em corpos
cênicos pelos atores, que a eles deram cor, sentido e poesia. A primeira edição aconteceu no anfiteatro do Laboratório Ambiental do Projeto
Germinar, dentro do evento Astronomia no Germinar, realizado pela equipe de Ciências da Natureza do IFMG Campus Ouro Branco, em 17 de maio de 2018, no espaço
Germinar da Empresa Gerdau, e contou com um público de educadores e discentes. O espetáculo buscou sensibilizar o espectador para a observação
do céu e durante a apresentação, o recital poético Siderações mesclou a Canção Sentimental do compositor Heitor Villa-Lobos
a sons sintetizados. O cenário foi composto por um jogo de luzes negras que fizeram brilhar os figurinos fosforescentes e brancos. Os atores movimentavam-se numa lona
coberta por uma areia branca e esse conjunto de luzes e materiais possibilitou aos espectadores um jogo sensorial de sons e cores. Durante a sideração dos corpos
celestes interpretados pelos atores, acontecia então o recital poético. Ao serem recitados, os versos dos haikais davam outra movimentação à
cena, como se universo obedecesse a um ritmo mais lento e cada planeta representado ganhava em palavras sua dimensão poética. Ao final do espetáculo, todos
os corpos celestes eram sugados pelo buraco negro, um sorvedouro que dava fim à cena de música e poesia de um universo insuportável. Como o espetáculo
foi pensado para ser realizado em espaços abertos, houve no espaço da estreia, a feliz coincidência dos atores apresentarem num teatro de arena, em meio a uma
floresta serrana, onde a presença de sons naturais, como os barulhos do vento, das águas do lago e dos animais noturnos tornaram-se cacos teatrais que suplementaram
a proposta em cena.
Elenco:
Carol – Sol, Heloisa – Estrelinha, Isabela - Sírius , José – Saturno, Karen – Júpiter, Larissa - Estrela , Laura Magalhães – Acrux, Luiza – Asteróide, Maria Eduarda – Terra, Pedro – Ganimedes, Ranier – Sol, Rebeka – Urano, Tamara – Marte, Tamíres - Buraco Negro, Thaís - Estrela sobrevivente, Vinícius – Vênus. Iluminadores: Adriano e Gustavo .
LEITURA DRAMÁTICA DE “QUEM GARANTE?”
A peça em um ato Quem garante? de Lysia de Araújo foi levada à
cena na EAD em 1961, sob a direção geral de Alfredo Mesquita. Composta por três vozes, também apresenta uma sugestiva sonoplastia e um
vigoroso fundo musical composto pela “Tocata e Fuga em ré menor”, peça para música de órgão composta por Johan
Sebastian Bach. A peça de Lysia de Araújo, digitalizada em junho de 2018 pela pesquisa “Memória em Cena Teatral”, desenvolvida no
IFMG CAMPUS OURO BRANCO, é construída numa ótica do absurdo, especialmente, pela forma como tematiza o amor, a morte e o tempo. Esse espetáculo
condensa o produto artístico final de um processo em que os corpos escritos dos arquivos pesquisados pelo grupo foram transformados em corpos digitais e, posteriormente,
em corpos cênicos. Em 28 de setembro de 2018, foi apresentada uma leitura dramática do espetáculo a um grupo de 34 pessoas (estudantes, professores,
técnicos administrativos e público externo), na sala de teatro da unidade 2 do IFMG Ouro Branco. A produção criada pelos bolsistas e estudantes
apresentou havia um cenário no qual quarenta cadeiras foram disponibilizadas (numa alusão à peça “As Cadeiras” de Ionesco, representada
por Lysia de Araújo. O cenário foi montado numa sala preta com o chão encoberto por galhos e folhas secas, e à meia luz de tom amarelado, sugeriu
uma cena desoladora. Ao entrar, o público foi levado às cadeiras e ficava submetido àquele cenário, até o momento em que era vendado e assim
permanecia durante toda a peça. Destarte, os espectadores viram-se mergulhados no drama em três vozes e envoltos em sensações e ruídos sugestivos.
A produção do espetáculo, à época, em andamento, voltava-se para a exploração ainda mais aprimorada das potencialidades sensoriais
da peça. A estreia do espetáculo foi o segundo semestre de 2019.
"QUEM GARANTE?" DE LYSIA DE ARAÚJO
Mesmo diante do árduo processo vivido em 2018,
trabalho de (re) criação do espetáculo “Quem garante?” de M. Lysia de Araújo persistiu e
com uma roupagem nova: buscou em sua montagem teatral atender a demandas de preparação que fossem específicas
para pessoas com deficiência visual. O mês de setembro de 2019 foi decisivo para finalização da peça,
especialmente, porque a base sonora da montagem era muito sensível, a incidência de qualquer barulho ou movimento cênico
inesperado poderia modificar a história da peça, mudar a nuance do enredo de conteúdo complexo e denso. Uma das vozes
perde-se em negativas: nada, não, mau tempo, ninguém... A outra voz, apenas pergunta, questiona também sobre tempo, amor,
sobre outra voz que virá. Ao final, no frio existencial da solidão, as personagens clamam à terceira voz que as aqueçam e
ela então os cobre com amor, que não basta o suficiente e logo acaba. Na ânsia de mais amor, no desejo das vozes que passam a
desesperar-se, a peça termina em questionamentos e desemboca no mesmo vazio existencial. Nenhum dos questionamentos é respondido,
todo laço de ações da peça não apresenta nexo. O tom é melancólico e perdido... Há lembranças
da infância, corridas de meninos entre os espectadores, risos, gritos, sinos, barulhos de água. A partir dessa sonoplastia, curiosas foram as
observações e reações dos espectadores. Uns disseram ter ficado amedrontados com os sussurros, o cheiro de incenso. Em outros,
as ações despertaram risos, alguns se tocaram, buscando braços e mãos de acompanhantes. Antes do início da peça, já
se compunha um quadro vivo o qual permitia a plateia tocar os atores e o cenário. Essa construção tátil também foi importante
para a elaboração individual de cada espectador sobre a cena, o espaço, os personagens. Um enredo que se construía em forma e conteúdo.
Depois de esse tocar/caminhar dos espectadores pelos Quadros Vivos, dava-se início à peça, construída num processo coletivo. A partir disso,
um texto coletivo ganhou vida durante o trabalho de pesquisa e montagem, construído por observações diversas: profissionais de teatro, estudantes,
espectadores cegos ou com limitação visual, professores. Esse processo ampliou o diálogo entre os atores e a sociedade.
O resultado da apresentação pôde ser analisado junto aos espectadores da Fundação Olhos D’Alma após a estreia em 02 de
outubro de 2019, quando foi realizada uma roda de conversa com os presentes. Durante a roda de conversa posterior à apresentação de 02 de outubro de 2019,
os deficientes visuais descreveram a montagem como uma experiência única, um chegou a afirmar que na audiodescrição alguém contava como era a
peça para ele, já ao assistir "Quem garante?", ele teve autonomia em assistir a partir de suas próprias sensações: audição,
cheiro e tato. Alguns deles nunca haviam presenciado uma peça de teatro, outros tiveram experiências com a audiodescrição e outros foram a peças
em que não puderam apreender os processos. Disseram que, com “Quem garante?”, havia sido diferente. Haviam experimentado uma interação com as
personagens e com o texto desenvolvido no cenário ouvido e sentido.